Apresentação

Este espaço é resultado da pesquisa intitulada “Para além do acesso: a Política de Cotas e o abandono escolar no Instituto Federal do Paraná, câmpus Paranaguá, desenvolvida pela mestranda Xana Machado Kostrycki e vinculada ao programa de Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica do IFPR-PROFEPT.

A pesquisa teve como objetivo compreender quais são as principais causas do abandono escolar de estudantes atendidos pela política de cotas dos cursos de ensino médio integrado no câmpus Paranaguá, pois ao identificar estes fatores e disseminá-los na comunidade escolar pode-se instrumentalizar a busca por alternativas para permanência e êxito dos estudantes cotistas.

A proposição de um espaço de acompanhamento do abandono escolar dos estudantes cotistas caracteriza-se enquanto mídia educacional no rol dos produtos educacionais - produção técnica da área de ensino da CAPES.

Nesta primeira versão, o site traz dados das turmas 2015 dos três cursos técnicos integrados do câmpus Paranaguá - Informática, Mecânica e Meio Ambiente. A proposta é que este espaço seja alimentado sistematicamente com dados atualizados, trazendo não apenas índices, mas as percepções e experiências dos estudantes. Afinal, é preciso ir além dos números, pois falamos de vidas, expectativas e, sobretudo, realidades.


Contextualização

No ano de 2008, através da Lei n. 11.892 foi criada a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (RFEPT), constituída pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, pela Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR), pelo CEFET do Rio de Janeiro e Minas Gerais, além de escolas técnicas vinculadas às Universidades Federais (WILSON, 2018). Atualmente compõe a Rede, 38 Institutos Federais, 2 CEFETs, 22 Escolas Técnicas vinculadas à Universidades Federais e o Colégio Dom Pedro II, somando 647 unidades que atendem cerca de 964.593 estudantes (dados da plataforma Nilo Peçanha, ano base 2018).

Instituto Federal do Paraná - IFPR

O Instituto Federal do Paraná - IFPR, é criado neste mesmo ano, pela Lei nº 11.892, teve origem na Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná (ET-UFPR). Atualmente possui 26 campi, distribuídos por todas as regiões do estado do Paraná.

Fonte: http://reitoria.ifpr.edu.br/wp-content/uploads/2009/03/mapa-unidades.png

IFPR - Câmpus Paranaguá

O câmpus Paranaguá está localizado em região periférica do município, no bairro Porto Seguro, distante 12 km do centro da cidade e 17 km das praias. Iniciou suas atividades ainda no ano de 2008 (como extensão da Escola Técnica da UFPR), instalado em espaço cedido pela Prefeitura Municipal, uma antiga construção desativada anteriormente ocupada por uma empresa de logística (PADILHA, 2019).

Atualmente, o câmpus oferta ensino de forma verticalizada, desde cursos de formação inicial continuada (FIC), técnicos em nível médio integrado, cursos superiores de licenciatura em Física e Ciências Sociais, cursos superiores de Tecnologia, cursos de especialização e mestrado acadêmico interdisciplinar nos eixos tecnológicos de Manutenção Industrial, Informática e Meio Ambiente, totalizando 1.078 (hum mil e setenta e oito estudantes), segundo dados da secretaria acadêmica.


Política de Cotas

O diferencial da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT) seria sua função social, delineada para ser uma escola inclusiva e transformadora. Suas concepções e diretrizes referem um marco nas políticas de educação no Brasil, revelando uma dimensão da educação profissional comprometida com uma política de inclusão (BRASIL, 2010).

Alinhada à política dos IFs, no ano de 2012 foi promulgada a lei 12.711 que dispõe sobre o ingresso nas instituições federais de ensino, definindo reserva mínima de vagas para estudantes negros, pardos, indígenas e egressos de escolas públicas. No contexto da educação profissional tecnológica, a política de cotas é um instrumento para acesso de parcela da população que historicamente não teve oportunidade a uma formação integral.

A perspectiva no IFPR

O IFPR já nasce com a perspectiva da política de cotas, partindo de um percentual de 40% de suas vagas no edital de processo seletivo para o ano letivo de 2010. Esse percentual vai sendo expandido ao longo dos anos, chegando à reserva de 80% de vagas destinadas à política de cotas no ano de 2015. Atualmente, o Instituto Federal do Paraná, mantém esse percentual, distribuídos da seguinte forma:

Fonte: Edital 18/2019 Processo seletivo IFPR - Org. A autora (2019)

As cotas de Inclusão são destinadas aos estudantes que cursaram o ensino fundamental integralmente em escola pública.

50% - Estudantes com renda familiar mensal inferior a 1,5 salários mínimos per capita; subdivididos em grupos específicos de candidatos.

50% - Estudantes com renda familiar mensal superior a 1,5 salários mínimos per capita; subdivididos em grupos específicos de candidatos.

Fonte: Edital 18/2019 Processo seletivo IFPR - Org. A autora (2019)

Cotas IFPR é uma referência feita pela instituição ao percentual de cotas estabelecidas acima do percentual previsto em lei.

Neste percentual não há a obrigatoriedade de vínculo exclusivo com escola pública e/ou critério de renda; estão distribuídas conforme demonstrado.

Fonte: Edital 18/2019 Processo seletivo IFPR - Org. A autora (2019)

Nesta configuração, estabelecem-se percentuais para as cotas sociais, cotas raciais e cotas para pessoas com deficiência, além da justaposição das mesmas, como é o caso da vaga destinada ao estudante negro, com deficiência, que estudou integralmente em escola pública e tem uma renda familiar per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo.

Entretanto, incluir é muito mais do que dar acesso, a política de cotas permite que pessoas em condições desiguais tenham a oportunidade de acesso, porém não prevê ações de valorização, acompanhamento, assistência e desenvolvimento pedagógico voltado a este segmento. Conhecer as demandas dos estudantes pode ser essencial para oportunizar aos mesmos condições de permanência e êxito, para além do acesso.


Mapeamento do Abandono Escolar

A delimitação do período amostral teve como referência os anos de 2015 a 2018. O ano de 2015 foi determinado considerando que o edital do processo seletivo (Edital 05/2014) ampliou o percentual de vagas destinadas a cotas. O recorte temporal foi limitado ao ano de 2018, considerando a duração dos cursos.

Números da Turma de 2015

Cursos Técnicos Nº Inicial Estudantes Sexo Feminino Sexo Masculino Cotistas Ampla Concorrência (AC) Cotistas Evadidos AC Evadidos
Informática 40 14 26 26 14 12 5
Mecânica 40 17 23 28 13 11 2
Meio Ambiente 41 32 9 32 9 9 2
Total 121 63 58 86 36 32 9
(%) Total 71 30
(%) Referente 37 25

Fonte: Sistema de Gestão Acadêmico - SIGAA e dados disponibilizados pela SECAD - Org. A autora (2020)

Ao analisar a relação entre os estudantes matriculados e evadidos foi constatado um índice de abandono de 34%, sendo que 78% dos estudantes evadidos são cotistas. Por mais que o número de estudantes cotistas matriculados seja mais expressivo que o de estudantes que ocupam as vagas da concorrência geral, quando analisados em categorias separadas verifica-se um percentual de 37% de abandono dentre os cotistas e 25% entre os estudantes de concorrência geral.

Org. A autora (2020)

Índice de abandono por Curso e Sexo

Cursos Técnicos Índice de abandono / Curso Sexo Feminino Sexo Masculino
Informática 42% 42% 58%
Mecânica 32% 62% 38%
Meio Ambiente 27% 73% 27%
Geral 56% 44%

Org. A autora (2020)

Quando analisados os dados referente ao perfil dos estudantes cotistas que deixaram de frequentar o curso em relação ao curso e gênero, foi identificado que o curso com maior índice de abandono é o curso técnico em informática, seguido pelo curso de mecânica e com menor índice o curso de meio ambiente.

Os dados em relação ao gênero não mostram uma diferença significativa quando analisados no geral, porém quando observamos que, com exceção do curso de meio ambiente, o número de estudantes do gênero masculino matriculados é significativamente maior, o percentual de abandono das estudantes torna-se representativo.

Fonte: Dados disponibilizados pela Secretaria acadêmica do Câmpus - SECAD - Org. A autora (2019)

  • O grupo de estudantes com renda familiar inferior a 1,5 salários mínimos correspondem a 47% dos casos de abandono escolar.
  • Estudantes pretos e pardos constituem 50% dos casos de abandono escolar.

Depoimentos

(click nas imagens)

Considerações: O que nos cabe enquanto instituição de ensino?

Cabe-nos perceber que somos mais que uma instituição de ensino de excelência, somos um instrumento de transformação social. Nossas ações impactam diretamente na vida dos nossos estudantes e de suas famílias.

A realidade posta na vida destes estudantes envolvem conflitos que estão para além da escola, mas que interferem diretamente na possibilidade de permanência e êxito dos mesmos. É preciso refletir, enquanto instituição de ensino que propõe 80% de suas vagas para inclusão, que o contexto do estudante que precisa deixar a escola para trabalhar nos diz respeito sim. Assim como a condição da estudante que vive uma situação de violência doméstica com apenas 16 anos de idade.

Não podemos reforçar todos os “nãos” históricos que esta parcela da população já vêm recebendo. A fala dos estudantes evidencia uma auto-culpabilização que reflete a realidade concreta em que vivem, uma realidade social esmagadora.


"se eu tivesse me esforçado..."

"Não fui alguém extraordinário no IFPR..."

"...só dependia de mim mesmo em encarar os estudos mesmo com a pressão de todo lado ou desistir e seguir a vida de outra forma..."

"A situação começou apertar. Me vi na obrigação de arrumar algo (...) sentimento de frustração..."


A pergunta é: o que fazer? O que nos cabe? Quando nossa matéria prima é o ser humano, não existem receitas prontas. Podemos e devemos nos embasar em teorias, mas acima de tudo precisamos parar para ouvir, tentar entender o que tem por trás de um conceito insuficiente, perceber as ausências, tanto físicas quanto emocionais, os obstáculos no processo de permanência e êxito de nossos estudantes.

É urgente também a mobilização de recursos para atender as necessidades essenciais e básicas dos estudantes, como alimentação e transporte. Estas são condições mínimas para efetivamente pensar a inclusão e a concretização de uma formação integral que subsidie uma real mudança de realidade aos nossos estudantes e suas famílias.


Ações de Auxílio à Permanência

Programas da Assistência Estudantil

São programas voltados ao estudante, para garantia de seu acesso e permanência no Instituto Federal do Paraná.

Os programas, em sua maioria, são dirigidos àqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica, tendo como principal indicador, sem prejuízo de outros fatores sociais e econômicos, o critério de renda estabelecido legalmente em um 1 e 1/2 salário (um salário-mínimo e meio) per capita. Isto é, a renda total do núcleo familiar, dividida por seu número de membros, deve ser menor do que este valor indicado.

Os editais dos programas são publicados anualmente e as inscrições são realizadas por meio do SIGAE – Sistema de Gestão da Assistência Estudantil.

Para auxiliar no processo de inscrição — que requer o envio de documentação pessoal e comprobatória —, a Diretoria de Assuntos Estudantis e Atividades Especiais (DAES) elaborou um tutorial de inscrição e um fluxo, que trazem informações e um passo a passo para auxiliar na realização da inscrição.

Acompanhamento Pedagógico

A Equipe Multidisciplinar, formada por: Assistentes Sociais, Pedagogas, Psicólogo, Técnicos em Assuntos Educacionais, Tradutores e Intérpretes de Libras e docentes são agentes responsáveis pelo suporte ao estudante e suas famílias.

Não deixe de procurar a Seção Pedagógica e de Assuntos Estudantis do câmpus, bem como os professores e coordenadores de curso, que atuam em prol da sua permanência e bem estar.

Contatos

ensino.paranagua@ifpr.edu.br

SEPAE Virtual: (41) 3721-8307

Atendimento à saúde: (41) 3721-8303

Acolhimento Psicológico: (41) 3721-8310

xana.kostrycki@ifpr.edu.br


Comentários

(envie seu comentário: xana.kostrycki@ifpr.edu.br)

"Todo retorno dado por alunos que não chegaram a concluir o ciclo, nos mostra fragilidades de um sistema e, sendo a prática docente um componente desse todo, acaba se beneficiando sobretudo pela oportunidade de rever práticas, atitudes e valores com relação a interrupção da trajetória daquele estudante."

"Sabemos que atuamos em uma instituição com política de cotas, porém não nos deparamos em olhar para as informações relacionadas à evasão dos/das estudantes cotistas. Como foi colocado no texto, não há receita pronta mas talvez precisamos estar mais atentos ao contexto social e econômico dos/das estudantes, olhar para "o que tem por trás de um conceito insuficiente, perceber as ausências, tanto físicas quanto emocionais, os obstáculos no processo de permanência e êxito de nossos estudantes."

"Quando li os depoimentos levei aquele choque de realidade acho que todo mês teríamos que ler isso pra não esquecer do quanto falhamos."

"Os resultados evidenciam que não basta a garantia do acesso, mas se faz necessária uma readequação didática e institucional para que de fato a democracia educacional se concretize."

"É fundamental uma atenção especializada por parte da comunidade escolar para os estudantes cotistas e subsídios como esse amparam as ações e dão maiores chances de fazer cumprir a missão do IFPR."


Referências

BRASIL. Um Novo Modelo em Educação Profissional e Tecnológica, concepções e diretrizes. Ministério da Educação, 2010.

PADILHA, Rosana de Fátima Silveira Jamma. A significação da docência EBTT à luz da teoria da atividade. Tese (Doutorado) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-graduação em Tecnologia e Sociedade, Curitiba, 2019.

WILSON, junior. A história da educação profissional no Brasil e as origens do IFPR. in Revista Mundi Sociais e Humanidades. Curitiba, PR, v.1, n.1, 3, jan./jun., 2016. Disponível em: http://periodicos.ifpr.edu.br/index.php?journal=MundiSH&page=index. Acessado em 28 de fevereiro de 2020.


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